A Loja das Ideias

Este blogue é um exercício de cidadania de um grupo de portugueses que pretendem debater publicamente ideias sobre Ciência, Cultura e Política. O nosso compromisso é, antes de mais nada, com a Ética, a Estética e o Rigor, pelo que o escrutínio da razão será o contraponto à imaginação e ao humor.

Thursday, March 03, 2005

Giordano Bruno: filósofo e cientista

A 16 de Fevereiro passaram 405 anos sobre a execução na fogueira de Giordano Bruno condenado pela Igreja Católica Romana pelo crime de heresia consubstanciado em oito actos até hoje não revelados. Às primeiras horas da manhã foi retirado da cela, onde esteve preso e sujeito a interrogatórios durante sete anos, e conduzido à Piazza dei Fiori em Roma onde foi queimado vivo. As autoridades da igreja temiam tanto o poder das ideias de um homem que era conhecido por toda a Europa como um pensador brilhante que mesmo nos últimos momentos ordenaram aos carrascos que lhe atassem a língua para que não pudesse falar à multidão que se tinha reunido para assistir à sua cruel execução.

Giordano Bruno punha em causa a natureza finita do universo, postulada por Copérnico, mas talvez a sua característica mais notável estivesse nos seus apelos vigorosos à razão e à lógica como vias para a descoberta da verdade. Duma forma que antecipava os pensadores iluminados do século XVIII, ele escreveu num dos seus últimos livros, De triplici mínimo (1591): “Aquele que deseja filosofar tem que primeiro duvidar de todas as coisas. Num debate não deve tomar posição sem ter ouvido todas as opiniões, e considerado e comparado todas as razões pró e contra. Nunca deve fazer um julgamento, nem formar opinião com base na evidência do que ouviu, ou na opinião da maioria, ou na idade, mérito ou prestígio do orador mas tem que proceder de acordo com a persuasão de uma doutrina orgânica que adira às coisas reais, e à verdade que pode ser compreendida pela luz da razão.”

O progresso da Ciência, tem sido ao longo dos tempos, sempre visto com desconfiança pelos sectores mais consevadores e dogmáticos da sociedade. De facto os seus pequenos ou grandes poderes repousam sistematicamente em sociedades ou comunidades incultas, pouco críticas e pouco exigentes. Nem sempre (embora ainda com muita frequência no mundo dito civilizado de hoje) essa desconfiança assume a brutalidade com que a inquisição eliminou os que questionavam as “verdades” estabelecidas, mas sob formas mais sofisticadas, os inimigos da ciência estão presentes e actuantes entre nós. Para os vencer não há outro caminho do que empenharmo-nos vigorosamente na promoção do enraizamento social do conhecimento em geral e da ciência como sua componente fundamental.

João Sentieiro

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